31 de dezembro de 2010

Páginas do Diário do Aviador

Páginas de um diário

O aviador, de regresso ao seu "mundo", não pôde contar aos amigos a sua fantástica experiência. Mas fez confidências ao seu diário.

Primeira página: recorda o seu primeiro encontro com o principezinho no deserto do Sara e como foi importante para si esse momento.

Segunda página: recorda a "discussão" que teve com o principezinho por causa de flores, espinhos, ovelhas e guerras e de como se sentiu perante os argumentos e a reacção do seu pequeno amigo.

Terceira página: recorda o que aprendeu (e/ou reaprendeu) com o seu principezinho sobre a beleza das coisas, a amizade, a separação...

Quarta e última página: explica porque é que, apesar da saudade, está feliz mas também preocupado.
Redige estas páginas do diário do aviador.
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PRIMEIRA PÁGINA


Numa noite, depois de me ter despenhado no deserto Sara, deitei-me na gelada areia do deserto e adormeci. Mais tarde, fui acordado subitamente por um menino que me perguntou se podia desenhar-lhe uma ovelha. Ainda estava perplexo com a imagem que tinha à minha frente, um menino, bem vestido, que não parecia estar perdido ou morto de cansaço e muito menos morto de medo. Não me parecia que fosse uma criança abandonada, mas era estranho uma criança estar a umas mil e umas milhas de qualquer sítio habitado, ali sozinho. O menino continuava-me a pedir um desenho de uma ovelha, eu perplexo com a situação, não ousei desobedecer, tirei uma folha e uma caneta. Disse ao menino que não sabia desenhar ovelhas, mas ele continuava a pedir-me que desenhasse uma ovelha. Resolvi por isso fazer um dos dois desenhos que sabia desenhar, o da jibóia fechada. O menino protestou dizendo que não queria um elefante dentro de uma jibóia, pediu mais uma vez um desenho de uma ovelha e eu obedeci tentando desenhá-la. Nenhum dos três desenhos que efectuei da ovelha, o menino tinha gostado, a todas elas tinha posto críticas. Eu, farto, desenhei uma caixa e disse ao menino que dentro dela estava a ovelha, o menino gostou, agradeceu e perguntou-me se ia precisar de muita erva, pois o seu planeta era muito pequeno. Respondi que não pois ela é pequena, e ao dizer isto adormeci.
Este foi o meu primeiro encontro com o intitulado principezinho.
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SEGUNDA PÁGINA
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Após alguns dias, no quinto dia, eu e o principezinho, chegámos a um tema de conversa sobre flores, espinhos, ovelhas e guerras.
Quando tentava reparar o motor, fiquei irritado com uma porca. Nesse instante o principezinho perguntou-me para que serviam os espinhos, e para ver se se calava com as perguntas que me enchiam mais a cabeça respondi-lhe que não serviam para nada, que as flores eram uma pura manifestação de maldade. Como não estava a prestar atenção Às perguntas que o principezinho me fazia, fui respondendo consoante o meu estado mental. Então, zangado, começou a disparatar comigo, criando uma discussão. O principezinho já sem noção do que falava por, tão irritado que estava, começou a falar de ovelhas e das guerras entre estas e as flores. Perante estes argumentos e indignação do principezinho para com aquela conversa, que subitamente tinha parado de falar e começado a soluçar e a chorar, com pena, peguei-lhe ao colo e embalei-o. Para o acomodar, fui-lhe dizendo que a flor que mais gostava estava a salvo. E perante isto tudo senti-me muito mal, abracei-o ali , ficando os dois ali aconchegados um ao outro.

TERCEIRA PÁGINA

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Aprendi com o principezinho que a verdadeira beleza das coisas nunca se vê com os olhos mas sempre com o coração, pois só a alma atribui um significado muito particular ao objecto em causa. Os sentimentos atribuídos neste pela pessoa em causa são importantíssimos ao mesmo e apenas ao mesmo, todos os objectos por mais comuns e regulares que sejam, para uma pessoa que tenha um forte passado com esse, torna-se único para essa pessoa e regular para os demais. O esforço que nós efectuamos para conseguir algo (um objecto inanimado neste caso), faz com que tenhamos um sentimento especial para com esse objecto de qualquer tipo, tudo o que nós façamos com esse corpo sabe melhor. O principezinho ensinou que a amizade se baseia na criação de laços entre duas pessoas, ou como a raposa disse é preciso cativar a outra para se criar uma amizade. Criam-se laços observando e explorando não só as coisas que têm em comum mas também os defeitos que podem ser perdoados, quer seja por um como pelo outro. Quando ambos tiverem criados laços, ambos tocaram no coração, um do outro e ficaram responsáveis pelas coisas más ou pelas coisas boas que praticam sobre essa pessoa. Ambos são banhados por uma confiança profunda, sabem que dependem um do outro para tudo e podem contar com ela para tudo.
Passam a conhecer-se realmente quando se cativarem.
É o que nos torna tão humanos, mas que infelizmente se tem vindo a perder ao longo do tempo, pelos homens.
O principezinho ensinou que na separação, dois amigos continuam a ter memórias um do outro e que irão sempre associar um factor qualquer em questão a esse amigo que lhe tocou no coração, quer seja a sua cor de cabelo ou as suas preferências pessoais.
Tudo o que lhe lembra o amigo faz com que as coisas que em tempo não tinham importância passem a tê-la e torna as coisas mais vivas e bonitas, são atribuídos sentimentos.
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QUARTA E ÚLTIMA PÁGINA
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Apesar de estar preocupado, pelo facto de não saber o que se passou com o principezinho no seu planeta e se voltou para lá são e salvo, também estava feliz por ter conhecido uma pessoa, ou por outras palavras, um rapazinho tão simpático e tão feliz, que se estava sempre a rir e que tinha bom sentido de humor.
Então de vez em quando, olhava para o céu, para as estrelas, a que chamava guizinhos, lembrava-me daquele dia em que conheci o principezinho, ao qual me acordara para perguntar se lhe podia desenhar uma ovelha. Agora, aquele sentimento a que chamamos saudade, pode ser aplicado nesta verdadeira amizade, quando se lembra que algures no Universo, não se sabe bem onde, uma ovelha que não conhecia possa ter comido uma rosa.


Alexandre Mota,nº 1
António Mariquito,nº 5
Diogo Gomes, nº 11
Rui Pedro Porfírio,nº 25

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