22 de março de 2010

Os Piratas

O vento sopra as velas que fazem deslizar na água o "Sereia Azul", um barco de piratas. Não é um vulgar barco de piratas, mas sim o mais respeitado de todos. O "Sereia Azul" tem uma tripulação de trinta homens. Trinta homens sujos, mal cheirosos, bêbedos e esfomeados. O navio é comandado por um pirata ainda mais sujo, mais mal cheiroso, com mais fome e ainda mais bêbedo. Dizem que ninguém conhece tão bem os sete mares como ele. Por isso, não precisa de bússola ou de mapas, basta-lhe ir para o cimo da proa, inspirar bem fundo e logo sabe o rumo que tem de seguir. Algumas lendas dizem que ele tem escamas de peixe nas mãos, mas nunca nada foi provado, pois usava umas luvas pretas, fizesse chuva ou sol. Para além dos trinta homens da tripulação, faz parte dela também um papagaio que anda no ombro do capitão.
Com o porão vazio de mantimentos, estava na hora de pôr os pés em terra e abastecer o navio. Deixaram as orientações com o capitão, como sempre, que foram dadas já com terra à vista.

Chegaram a uma terra onde era a paragem de várias tripulações de marinheiros. Assim que entraram naquela típica taberna, onde havia habitualmente pancadaria, com bancos pelos ares, garrafas partidas nas cabeças uns dos outros, a confusão parou. Ouviam-se sussurros: «É ele!». À medida que o capitão ia entrando, todos se iam afastando e afastavam todos os obstáculos deixados na linha de passagem do capitão do «Sereia Azul». O capitão sentou-se numa mesa que por sinal era a única que tinha ficado inteira, depois da confusão.

O capitão disse em voz baixa a um dos seus homens para mandar todos os homens que estavam na taberna irem à sua vida, como se num exército um comandante tivesse dito. "À vontade!"

Eles beberam, comeram, arranjaram mulheres para passarem a noite e ao final da manhã, com o barca abastecido, seguiram de novo para o mar.

Já estavam a milhas da terra onde tinham passado a noite, quando a corrente, sem eles se aperceberem, os levou para um sítio que sabiam existir em lendas. Ora, nessas lendas dizia-se que todos os marinheiros eram encantados pelas sereias. Diziam as pessoas, dos mares e das terras, que o canto das sereias encantava os marinheiros, fazendo com que acabassem afogados no fundo do mar.

Não conseguiam acreditar onde estavam! Olhavam para a água junto ao barco e viam mulheres a mergulhar, mas mulheres com cauda. Sim, eram sereias! Era um local onde a força da água era muito forte, a transparência era como nunca antes se viu em outro mar. Não havia peixes naquelas águas, apenas sereias. Era muito difícil controlar o navio, pois havia rochedos desde o fundo do mar, até atingir muitos metros, a contar da superfície. Era como se fosse uma cidade de rochas. Rochas que estavam muito próximas umas das outras e a água que passava entre elas, pareciam estradas marítimas.

Cada vez apareciam mais sereias que rodeavam o «Sereia Azul». Os homens chegaram-se para a beira do navio para ver a beleza das sereias. A beleza delas distraía-os tanto que não se lembravam das famosas lendas. Mas deviam, pois uma sinfonia suave entrava nos seus ouvidos. Eram vozes femininas, vozes de um timbre nunca antes ouvido. Aí os homens começaram a paralisar o olhar, os seus olhos bêbedos deixavam de ter essa expressão para não ter nenhuma. Mantinham-se fixados no fundo do mar como se os olhos começassem a pesar. Começaram a cair à água sem fazerem nenhum esforço para voltarem à superfície, dando as mãos às sereias para alcançarem o fundo do mar. A sinfonia não terminava e os homens não paravam de cair.

O capitão não queria acreditar. Saltou para o mar para salvar os seus homens. Inexplicavelmente, a sinfonia das sereias não tinha qualquer efeito no capitão. Assim que o capitão mergulhou no mar e assim que entrou na água, as sereias afastaram-se dos marinheiros e pararam de cantar. Lá do fundo, das águas bem fundas, veio uma sereia na direcção do capitão. Era uma sereia diferente das outras. Era maior, mais velha, diferente.

Os marinheiros que ficaram soltos das sereias despertaram do encantamento e tentavam ir em busca de ar. Alguns conseguiram, outros já não lhes foi possível regressar. Entre aquela sereia diferente e o capitão surgiu um clima amoroso. Ficaram ali parados, com o olhar fixo um no outro, como se estivessem os dois paralisados. Surpreendentemente, o ar não se gastava ao capitão. Estiveram assim durante uns segundos até que o capitão, com um leve movimento, levantou a mão, tocou no rosto da sereia. Ela fechou os olhos como se o coração estivesse apertado. Rapidamento abraçaram-se, como se estivessem no ar, mas ali estavam dentro do mar como dois peixes. Ela bem que tinha desculpa.

Os marinheiros já subiam para o barco e tentavam recuperar o fôlego. Já de baixo de água, ouviam-se palavras: «Que saudades!» , «Que aconteceu?». A sereia e o capitão vieram à superfície e, num rochedo, trocaram palavras, carinhos. Nem parecia o comandante do «Sereia azul», tinha um sorriso no olhar. Tirou as luvas e na parte de cima as mãos tinha umas escamas iguais à cauda da sereia.

Não era a primeira vez que o capitão ali estava. Da primeira vez tinha sido seduzido pelo canto da sereia, acabando por se apaixonar, mas a corrente acabou por o levar para longe. A partir daí, nunca mais conseguiu chegar àquele sítio. Deu então o nome de «Sereia Azul» ao seu navio, em homenagem ao amor da sua vida, que por fim conseguiu encontrar.

O capitão mandou a sua tripulação seguir, dando ao papagaio a opção de ficar ali. Porém, o seu fiel amigo, embora com saudade, seguiu com os outros.

Ali mudou a vida de um homem com fama de mau e terrível, para a de um homem que deixou tudo por amor. Assim mesmo é o amor!


Nídia Santos

(8.º G)

3 comentários:

Teresa Diniz disse...

O texto ficou mesmo bonito, com as belas imagens inseridas pela prof. Natália.
Bjs

☆Fanny☆ disse...

Nídia, que lindo!!!

Fiquei agarrada ao texto, não sosseguei enquanto não terminei de o ler!!! Fantástico!

Achei graça ao facto do barco se chamar "Sereia Azul", afinal o seu amor foi tanto, que ele quis homenagear esse seu amor desta forma tão bonita.

Continua a escrever, eu acredito que a tua escrita está a abrir as portas para um caminho luzente de sucesso!

As imagens que a Professora Natália escolheu ilustram bem o texto e ajudam o leitor na sua leitura.

Obrigada por este momento tão aprazível!

Um beijinho

Fanny (professora FátimaCosta)

Clube dos Criativos disse...

Deu-me muito prazer ler esta aventura de piratas, onde o AMOR é rei.
Continua a escrever pois tens todo um caminho a trilhar pelas palavras.

Bjs da prof. Natália