Lúcia, por fim, olhou-se no espelho e viu aquilo que menos esperava. Viu o seu reflexo de há vinte anos atrás onde parecia rude e infeliz. Lúcia viu que nunca mais se iria recompor e apagar o passado. Lúcia olhou-se mais uma vez e tendo visto o reflexo do sapato roto e esfarrapado, tirou-o ... e sempre guiado pelo seu reflexo atirou o sapato ao espelho, partindo-o em cacos.
Lúcia pegou num caco e olhou-se mais uma vez, visto que nada tinha mudado, quis pôr fim a todo aquele desespero e infelicidade, pondo fim à sua vida. Lúcia esborrachou o vidro na sua mão caindo gotas e gotas de sangue no chão. Pronta para acabar com tudo, ouviu um grito que a fez sobressaltar. Era o rapaz que há vinte anos dançou com Lúcia no primeiro baile, aquele que pôs os seus olhos a brilhar. Lúcia ficou escandalizada. O rapaz correu para ela e rapidamente tirou de perto de si todos os vidros espalhados pelo chão dizendo que parasse.
- Pára com isso! - disse Lúcia.
- Pára tu com isso, Lúcia! - disse o rapaz sufocado pela aflição - Pára! Tu és maravilhosa e perfeita, não entendes? Mesmo com aquele vestido e os sapatos de há vinte anos atrás, estavas maravilhosa. Eu nunca me esqueci de ti e todo este tempo te procurei quando soube que tinhas casado... Desde a primeira vez... És tudo para mim Lúcia. Não faças isso! Eu amo-te.
Lúcia nunca tinha ouvido aquelas palavras de ninguém, nem mesmo ao seu marido com quem já estava há vinte anos e foi então que percebeu que nunca deveria ter fugido dele, naquela noite, pois ele era o amor da sua vida. Casaram-se e pouco tempo depois Lúcia engravidou e como todas as histórias felizes, viveram felizes para sempre.
Milene Salgueiro
(8.º E)
0 comentários:
Enviar um comentário