É um copo igual a todos os outros.
Encontra-se num bar de aspecto sinistro, situado num beco da capital portuguesa.
Este copo tem marcados no seu vidro todos os sinais do seu trabalho: ora toca de servir, ora toca de ir à máquina.
Os anos passam, e já lá vão vinte anos de serviço… vinte anos de histórias contadas… vinte anos a reflectir o rosto de pessoas desgostosas e cansadas… vinte anos envolvido no ambiente pesado de fumo e drogas, coberto de mágoas e desgostos.
Este bar é conhecido como o Beco do Alfredo.
O senhor Alfredo é o dono do bar… é um senhor de bigode, com o cabelo meio grisalho. O palito permanece no canto da boca. Com o seu avental castanho, já com manchas de lixívia e bebida, transporta consigo uma corrente e uma cruz, banhadas a ouro. Tem os olhos cansados de viver.
O copo passa a maior parte do tempo a ouvir o senhor Alfredo a ler o Jornal de Desporto ou o diário local.
Este copo já ouviu todo o tipo de histórias: suicídios, crimes, abandonos, desgostos e tristezas.
Sempre que a Dona Amélia entra, o copo já sabe que, enquanto ela bebe o seu Gin Tónico, vai lamentar-se inúmeras vezes por o seu ex-marido a ter abandonado e perguntar-se a si própria se estava assim tão feia, enquanto observa o seu reflexo no copo cheio.
O senhor Joaquim, que ameaça matar o sobrinho por este ter assassinado o próprio pai, e o senhor Vidal, que chora horas a fio por ter apanhado a mulher enrolada com o mecânico, são também clientes habituais.
O copo fica tão desgastado, a ouvir tanta história e com tanta lavagem que, um destes dias, quando o senhor Alfredo menos esperar, depois de beber o seu café e bagaço do costume, encontra-o feito em cacos, dentro da máquina de lavar loiça. Ele já prometeu que o fazia.
Ana Mafalda Marques – 9º C.
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